Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

domingo, 29 de abril de 2012

SENTIMENTO DE MUNDO


Curvo-me sempre a olhar
a essência das almas amarradas.
Por vezes inerte, esmago
o decúbito desumano
dos desamores  no calabouço.

Hoje mesmo dissequei uma alma
negra, seca, sem cor e sem rosas.
Migrei para um vale seco
e moldei um esconderijo de folhas.

Horas depois não tive piedade humana
Medi cada pedaço das almas que tenho
Pois não sei quantas haverei de conquistar.

Velei e desvelei pelo verso mais íntegro
Escrevi a poesia inútil de todos os mortais...
O homem é o bicho devorador de si mesmo.

 

 

 

domingo, 22 de abril de 2012

GLÓRIA PEQUENA



Celebro a glória minúscula do que sou
Saboreio a sensação de tudo em nada.
Tenciono a caligrafia inútil
de todas as minhas especulações.


Sinto hoje uma completude no gozo
de não ser absolutamente nada.
Desfolho o arranjo da metafísica
e do amor platônico que guardei comigo.
Vivo como quem abraça a escória
e sente um imenso oceano nas mãos.


Enquanto o destino me conceder,
esmagarei o pavão retorcido
que cada raça tem dentro de si.


Haverá uma glória estúpida
a me banhar na aba do infinito.
E vestindo-me das pequenas coisas
Que mais haverei de querer?

domingo, 15 de abril de 2012

A TERCEIRA MARGEM DA ESPERA


Espalhei os cacos da solidão
e cantei a aurora da penumbra.
Estive distante de meus sabores
Naveguei no rio negro de tua alma.

Esta crua realidade visita-me
toda noite no além-mar.
Zombeteira,
ela despe as duas vidas que tive:
uma coberta de nada,
a outra camuflada de vazios.

O que importa não é a terceira
margem da espera
no outro lado do rio?

É por isso que prezo a lembrança
do inesperado
do encontro desmarcado
e das horas esperadas.
Afinal,
O que importa não é a hora da chegada
Mas o sentido imensurável da busca.
Importa é a cicatriz de teu corpo
na pele oculta da minha ausência.

domingo, 8 de abril de 2012

MARCAS DE BATOM

Deste oceano de pedras
ninguém abrirá a janela
a mirar o cheiro
da espuma em mim submersa.
Nem mesmo a lua fria
e a constelação adornada
de amores e desencontros.

Eu certamente
esmagarei os cravos
na coroa da alma
que veio banhar agora
toda leve e solta
nas ondas de maresia.

Um mar de saudades
veio curar a cicatriz
do batom vermelho
nos botões de tua camisa
que nem mesmo toquei.

Bebi do mesmo mar salgado
acariciei a brandura seca
de teus pés silenciosos...
Por fim beijei a tua alma tatuada
e o teu olhar veio cravar
nos pedaços de minha essência.