Por que escrevo?
Escrevo para não morrer.

(José Saramago)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A IMPORTÂNCIA DE MACHADO DE ASSIS UM SÉCULO DEPOIS DE SUA MORTE

(Este texto está editado na coletânea das 100 melhores redações para professores premiados pela Academia Brasileira de Letras e Folha Dirigida - Rio de Janeiro - 12 de setembro de 2008 - data de lançamento dos textos. Foi uma honra receber o prêmio de edição pela terceira vez, dentre os 37.273 inscritos, não para vanglória de saberes porque isso nunca me envaideceu, mas pela opornunidade de registrar meus pensamentos sobre o cânone literário e imortal Machado de Assis). LEIA- O ABAIXO:
A IMPORTÂNCIA DE MACHADO DE ASSIS UM SÉCULO DEPOIS DE SUA MORTE
O leitor que não é obtuso e já é meu amigo, não deixará de ler e reler as minhas memórias de Machado e admitir que como se serviram “da tampa e do balaio”, usarei “a mão e a luva” para narrar... (Rosidelma Fraga).

Imagine o leitor, quantas vezes eu estive a virar as páginas de Machado de Assis no ensaio de traduzir o enigma de cada uma de suas narrativas ou um discurso que não fosse anfibológico e, por excelência, abarcasse a importância de Machado de Assis um século depois de sua morte. Frente a essa busca incomensurável, vejo-me diante de meu próprio espelho e creio que, para redigir sobre a relevância de Machado, devo atar as duas pontas do tempo, oscilando entre passado e presente, não mais com as idéias fora do lugar, mas com idéias fixas, ao arquétipo de uma faca só lâmina de João Cabral de Melo Neto, a fim de justificar em minha crônica mais que uma representação de um cânone literário chamado Machado de Assis. Não vi outra saída a não ser narrar em primeira pessoa os entrecruzamentos de Machado e a minha memória de suas obras.
Ao olhar no espelho das lembranças, posiciono-me frente ao seu conto Espelho e vejo-me refletida em sua narrativa narcísica. As palavras de um defunto vivo espelham-se em meus pensamentos que voam nas páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, A mão e a luva, Americanas, O apólogo, A cartomante e outras histórias. É nas linhas a seguir leitor, que tu saberás da união de minhas memórias com Machado, formando um encontro de mão e luva.
Saibas tu leitor, das memórias de uma professora de Mato Grosso aos subúrbios do Rio de Janeiro. Não importa o nome das obras de Machado, todas me faziam relembrar das páginas que li quando entrei na Rua da Alfândega, na Rua do Ouvidor e, pela imaginação, na Rua Matacavalos, justamente o ano passado na homenagem inexorável aos professores na Casa de Machado de Assis no dia 07 de fevereiro. Não pense o leitor em desistir da narração. Subirei e descerei à história dos subúrbios sem fugir do tema e narrarei a minha surpresa diante da imagem de Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras.
Antes disso, não pude evadir. Ir ao Rio de Janeiro e não andar nas ruas por onde caminhou José Dias e outros personagens, seria como se ouvisse o Brás Cubas um século depois de sua morte com o sobressalto da ressurreição, tocando-me com a mão e a luva para dizer: “a leitora que é minha amiga” e está nas ruas que descrevi, quer voltar às pressas para Mato Grosso, “não faça isso querida, eu mudo de rumo”. Ao ouvir minha memória tocada pelo enigmático discurso machadiano que sobrevive nas páginas amareladas de cada obra, caminhei em direção à Rua do Ouvidor e da Alfândega. Ninguém poderia imaginar que uma professora do “lugar onde Judas perdeu as botas” trocaria a poesia visual do Pão de açúcar e o Cristo Redentor que silenciam os mortais por cenas lidas em Machado de Assis. Ninguém pensaria que as ruas pintadas por seus narradores despertariam assaz curiosidades e, sobretudo, conduziriam uma curiosa leitora do interior aos livros da gigantesca Biblioteca Nacional eternizados no minuto de meu olhar diante da imensidão de livros de Machado e outras publicações que sonhei desde a adolescência e nunca pude roubá-los, por medo da condenação. A partir da coletânea A importância de Machado de Assis um século depois de sua morte, todos saberão o que Machado representa para cada professor de literatura. Não encerre a leitura. Entenderás tu, arguto leitor.
Com suas palavras poéticas, Guimarães Rosa permitirá à mão que aqui escreve atar as pontas do tempo que prometi ao leitor no início. Quiçá o Rosa tenha pensado que Machado de Assis, ao fundar a Academia Brasileira de Letras em 1878, estaria se eternizando um século depois de sua morte, bem como já se imortalizava pelo conjunto de suas obras, uma vez que nos livros “as pessoas nunca morrem, ficam encantadas”. Mesmo com as páginas amareladas, o discurso de Machado resiste ao tempo e está “como um cão vivo” na minha memória que virou história e entrará para a História. Logo eu quem recebeu por dedicatória apenas as batatas, mas por ser uma professora mais que vencedora na caminhada incansável em prol da leitura e da arte de contar e casar histórias do excelso Machado ao leitor que agora, com fidúcia, deve estar sem palavras.
E tu leitor, não serás obtuso em discordar, que as pontas das minhas memórias sobre o significado de Machado de Assis puderam acirrar algumas idéias fora do lugar. Entretanto, tenho a audácia de escrever que as pontas do laço dessas idéias serão unidas pelas futuras gerações, juntamente com os outros noventa e nove textos que unirão a essa crônica. Portanto, em louvor à imortalidade de Machado de Assis, bebo as palavras do crítico Maurice Blanchot, as quais adornam os meus laços discursivos, ao endossar o pensamento de que “a eternidade do escritor se traduz pelo fascínio do olhar sobre a obra que se direciona sempre a um eterno recomeço”. Por isso, junto esse ato de recomeçar às minhas memórias do tempo e ao meu “espetáculo” sobre Machado na velha e renovada salinha de aula, confessando o meu desejo de reescrever inúmeras histórias sobre Machado de Assis. Como o espaço é limitado, amanhã darei um tema aos meus alunos: “Por que Machado de Assis não morreu?”. Darei a aula e na Academia Brasileira de Letras levarei outra história que será registrada pela Folha Dirigida aos leitores de todo Brasil. Se o salário de professor não proporcionar a subida às escadas negras da ABL e falar na desejada tribuna, que importa? Nada será mais sensacional que a união de Machado de Assis e as minhas memórias eternizadas no livro que após cem anos de civilização será lido e relido porque livro não tem prazo de validade.
ROSIDELMA FRAGA.

SER POETA É...




SER POETA É ADMITIR QUE SOMOS MOVIDOS POR UMA FORÇA EPIFÂNICA, MESMO NO UNIVERSO DOS ATEUS. SER POETA É IMPLORAR PARA SER ESCRAVO DAS PALAVRAS. É SER MENDIGO COM FOME DE POESIA TODOS OS DIAS. SER POETA É VIVER O MUNDO FANTÁSTICO DA ÉPICA-GREGA E ÉPICA-BÍBLICA, SEM DISTINÇÃO DE CRENÇAS E MITOS. SER POETA É ENCONTRAR COM DEUS E O DEMÔNIO NO MEIO DO CAMINHO E SABER INTENSAMENTE QUAL É A FORÇA QUE NOS LEVA A ESCREVER. ESSA FORÇA CATROFÂNICA ME LEVA A CANTAR SEMPRE.

Rosidelma Fraga - 2008

CANTO IMORTAL A PAVAROTTI










Adeste Fideles em meu leito de folhas caídas,
triunfante na jusante da minha infância.
O canto lírico que minhas mãos afagaram.
Meu universo de quimera e epifania
Que doravante se fará imortalidade
do lírico incomensurável da Ave Maria.

Meu canto de Natal indescritível
Neste dia sagrado Deus a mim escolheu,
Para seres minha palavra eterna
Que o tempo jamais a fará efêmera ou fugaz.
Infinito és tu Pavarotti em todo universo!
Infinito sou eu desaguando em mil pedaços!
Mas é a tua voz que me faz poema em cada instante
Ela reinará sempiternamente aqui comigo.
Tu és a ternura recôndita suavizando meus versos
Nesse deserto de noites insones.
Serás para mim, Luciano, minha lírica sensual
Porque poesia e música se fundem em orgasmo.
A nossa linguagem é corpo e poema:
um erotismo incomensurável!
Estamos aqui nesta fusão lírica.
A tua música libertou minhas palavras das grades,
das algemas que me sempre me aprisionaram...
Eu eternizo nesta página fosca e seca que é o livro
o teu canto sagrado com minhas mudas palavras.
ROSIDELMA FRAGA.
(leia este e outros poemas na biblioteca virtual de escritores)

REVERSO



...
...
...
Ainda que eu cantasse
o futuro...
Ainda que profetizasse
o amor e a quimera...
Não viveria o bastante
para traduzir a face oculta
da caligrafia desses versos...
Nem mesmo seria a caligrafia oculta
de cada poema que escrevi.
Eu sou apenas a poesia algemada
Que ainda meu verso não escreveu:
O reverso das palavras jogadas na poeira
no charco de lodo e no deserto das vivências.
Eu sou ainda o véu sagrado das palavras
Que suplicam pela completude imaculada.
Rosidelma Fraga

(texto protegido pela LDA)

AUSÊNCIA





...
...
...
Acordo cambaleante de sono
Em meio à minha assombrosa
solidão banhada pela tua ausência.
Pressinto teu cheiro e teu sabor:
Meu corpo está ainda molhado
Já tocado pelas mãos imaginárias.

As palavras insistem em sair no papel.
Não há letras
Há sangue nas veias
que destinam sem parar.
Eu fico do outro lado da ilha
do oceano sem fim
a clamar além do corpo
além de um amor sem palavras.

Queria que a porta do céu se abrisse!
A porta está fechada.
Suplicaria algemada aos pés do criador
Ele quiçá não atenderia.
Eu invocaria a expulsão de tua ausência
A dor que ela me causou.
Certamente eu seria apenas
a chama apagada no inferno das decepções.
Eu nunca seria nada que pudesse amar.
Sou o vazio de um corpo despido de futuro.
Resta-me somente a tua imagem e minha dor
Aqui perdida no papel amassado de lembranças.

Rosidema Fraga- (leia este poema na Biblioteca virtual do escritor)